François Craenhals (revista belga Schtroumpf:  nş 11, 1970)

FRANÇOIS CRAENHALS
IXELLES (BRUXELAS)-BÉLGICA
(15/11/926 - ? )



François Craenhals nasceu em Ixelles, nos arredores de Bruxelas (Bélgica), a 15 de Novembro de 1926. Desde cedo que sonhou fazer banda desenhada e, com apenas 15 anos de idade, envia 3 álbuns completos de várias séries, inteiramente realizadas por si, para a revista belga "Bravo"; porém, para seu grande desgosto, nunca chegou a obter qualquer tipo de resposta por parte dos responsáveis pela revista.

Entretanto, François Craenhals não desiste desta sua paixão e frequenta um curso de desenho na Academia de Belas Artes de Bruxelas, após a conclusão do qual, começa, desde logo, a fazer caricaturas e ilustrações para o jornal "Vrai", a convite do chefe de redacção, Jo Gérard; simultaneamente, Craenhals vai colaborando em diversos diários e semanários belgas.

A sua primeira banda desenhada é publicada, em 1948, na revista "Le Soir Illustré". Entretanto, Craenhals conhece Fernand Cheneval, que é o responsável pela revista belga "Álbum Heróico", o qual encoraja e convence Craenhals a criar uma nova série de aventuras, personificada por um herói, de nome "Karan", uma espécie de jovem "Tarzan", acompanhado de um jaguar, chamado "Rhôr"; assim, no início da década de 50, Craenhals produz nove histórias deste novo herói.

Enquanto vai trabalhando, também, na área da publicidade e decoração de montras, Craenhals entra, em 1950, para a famosa revista "Tintin", onde, de início, começa a trabalhar como desenhador estagiário, fazendo ilustrações e trabalhos de pequena responsabilidade, até que, pouco a pouco, vai-se integrando na equipa de colaboradores permanentes da revista. A primeira série importante de banda desenhada que cria nesta revista é "Rémy e Ghislaine", através da história "O estranho caso do senhor de Bonneval", seguindo-se-lhe "O poço 32".

Sentindo-se atraído e fascinado pelo mundo do circo e auxiliado por André Fornez (chefe de redacção da revista na altura) e por Evany (paginador da revista), Craenhals cria, em seguida, a série "Pom e Teddy"; aliás, o mundo do circo já o havia inspirado, aquando da elaboração da história "Karan no Circo". Craenhals sente, contudo, alguns problemas por causa da documentação, principalmente, em relação à história "O segredo de Balibach", no que se refere, especificamente, à vida dos ciganos. Já relativamente à história "O talismã negro", Craenhals é ajudado por um jesuíta e por índios que viviam em Enghien, perto da sua casa. No entanto, após alguns desentendimentos e divergências com o editor, por causa dos álbuns, Craenhals abandona a série "Pom e Teddy", excepto na revista "Selecção Tintin", onde procura desenhar um "Teddy" mais velho, mas sem sucesso nem continuidade.

François Craenhals trabalhou, também, para a revista "Pequenos Belgas", cabendo-lhe continuar, em 1953, a série "O dossier nº...", através das personagens "De Moen", "Johnny" e "Suzie"; depois de Craenhals ter produzido duas histórias, entre 1955 e 1956, Jean Ray passa a escrever também alguns argumentos. Em 1960, Craenhals desenha uma história humorística passada durante a Idade Média e, entre 1955 e 1964, escreve várias histórias curtas do género histórico-religioso para as crianças belgas, assim como produz várias páginas de piadas da série de carácter cómico, "Roc e Rol".

Simultaneamente, e durante um curto período de tempo, François Craenhals colabora num projecto com a abadia de "Averbode", onde Nonkel Fons era o editor-chefe de algumas revistas educativas e pedagógicas, como por exemplo, a revista "Zonneland". Aí, Craenhals elabora, entre outras histórias, a história de "O Milagre de Lourdes", em 1958.

François Craenhals estabelece, igualmente, uma colaboração regular na revista escutista "Seonnee", entre 1958 e 1961, e também produz uma história quotidiana "Primus e Musette", publicada na revista "La Libre Belgique". Quando, em 1962, a revista "Pequenos Belgas" muda o seu "título" para o nome "Tremplin", Craenhals cria, juntamente com Henri Dedryner, um novo herói, chamado "Luc Tremplin", a respeito do qual fizeram duas histórias entre 1962 e 1963.

Em 1966, François Craenhals cria a sua banda desenhada mais famosa, personificada por um jovem e belo herói, nobre, valente e romântico, chamado "Cavaleiro Ardente", o qual, contra todas as adversidades e vicissitudes, irá conseguir conquistar, por fim, o amor da sua adorada princesa "Gwendoline".

As aventuras de "Cavaleiro Ardente", vividas em plena Idade Média, enquadram-se no género histórico, mais especificamente, na tradição da cavalaria medieval e das histórias de capa e espada; as aventuras deste herói são publicadas na revista "Tintin", entre o final da década de 60 e o início da década de 80, passando por toda a década de 70.

O "nascimento" deste herói não foi fruto do acaso, mas antes está intimamente relacionado com o gosto que Craenhals nutria por este tipo de histórias e o seu desejo em produzir uma série de aventuras do género de cavalaria, tendo conseguido convencer, não sem alguma dificuldade de início, a revista "Tintin" a publicar este género de histórias, cujo argumento, aliás, se assemelhava ao de "Pom e Teddy".

No final da década de 60, François Craenhals (no desenho) cria, em colaboração com Georges Chaulet (no argumento), uma nova série de aventuras, chamada "Os 4 Ases" (as personagens são três rapazes e uma rapariga), a qual aparece, pela primeira vez, na colecção "Relais", destinada, em particular, a crianças entre os 8 e os 12 anos de idade.

As histórias dos "4 Ases" foram publicadas em álbuns, editados pela editora Casterman, tendo, no total, sido publicados 16 títulos, reeditados em várias línguas. A esta série, segue-se, já em 1982, uma outra, de nome "Fantúymette", criada também em conjunto por estes dois autores.

Em 1990, a editora flamenga "Arboris" edita um livro, no qual consagra e dedica um estudo especial à carreira e obra de François Craenhals; este livro é publicado sob o título: "Dossier Craenhals".

François Craenhals é, certamente, um dos autores mais versáteis e originais da banda desenhada franco-belga. Nele deve-se admirar, principalmente, além do seu enorme talento gráfico, a facilidade com que passa do realismo puro ao humor sarcástico e irónico. Com efeito, o talento de Craenhals é tal, que este pode, com igual facilidade, lançar-se, quer na banda desenhada esquemática, reservada ao humor, quer na banda desenhada realista.

Contribuição de Alexandre Ribeiro