Greg (Le Lombard)

GREG
(Michel Regnier)
IXELLES (BRUXELAS)-BÉLGICA
(5/5/1931 - 29/10/1999)


Michel Regnier, cujo pseudónimo artístico mais conhecido é Greg, nasceu em Ixelles, nos arredores de Bruxelas (Bélgica), a 5 de Maio de 1931. Desde muito cedo, mais propriamente, desde a escola primária, que Greg passa a maior parte do seu tempo livre, a inventar, a contar e a escrever histórias, não se interessando pelas brincadeiras demasiado infantis, disparatadas e agressivas dos seus colegas de escola; assim, aquela ocupação, algo solitária mas saudável e estimulante, permite a Greg, por um lado, afastar-se destas más companhias e evitar os maus comportamentos, e por outro, desenvolver o gosto pela escrita.

Esta vocação e talento, revelados de forma tão precoce, acompanharão Greg pela vida fora, e constituirão o prenúncio de uma carreira extremamente produtiva e versátil na banda desenhada, carreira essa que iniciará, aos 16 anos de idade, através da série "As aventuras de Nestor e Bonifácio", publicada na revista belga "Em direcção ao futuro".

Em 1953, Greg entra para a revista "Álbum Heróico", criando, sob o pseudónimo Michel Denys, a série "O gato" (1953-1956), uma espécie de "Batman", o qual, apesar de não ser especialmente audacioso e intrépido, é um herói que agrada aos leitores. Em 1954, Greg entra para a revista "Spirou", aperfeiçoando aí o seu estilo e desenvolvendo e aprofundando a arte da banda desenhada, junto do mestre Franquin. Nesta revista, desenha a história "Caddy e o templo dos tigres", seguida de "Corrida".

Em 1955, Greg cria a sua própria revista, à qual dá o nome "Paddy", na qual produz "Verbena e o mistério", "Paddy e o acontecimento de Chanterive" e "Ringo". Contudo, confrontado com dificuldades e problemas financeiros, a revista não dura mais do que 5 números; nesse mesmo ano, Greg entra para a Agência "International Press".

A partir de 1956, Greg expande e alarga sua actividade, trabalhando (no argumento) com Victor Hubinon, em "Fifi", na revista "La Libre Junior", e com Uderzo e Goscinny em "Luc Junior", entre 1958 e 1963. Entre as suas próprias criações, estão "Randy Riple", desenhado em 1956, "Bison e Onistiti", em 1957 (com René Fouarge), "Fleurette" , a partir de 1957, e "Bronco e Pepito", entre 1957 e 1958. Paralelamente, Greg inicia também uma rica e versátil carreira como argumentista para outros autores, tais como, Gérald Forton ("Tiger Joe", a partir de 1958), Martial ("Alain e Christine", a partir de 1959), Louis Hache ("Bob Francval e Djinn") e Tibet (histórias da série "Chick Bill", "Clube des Peurs de Rien" e "Mouminet").

Entre 1957 e 1961, Greg escreve, na revista "Spirou", algumas das melhores histórias da série "Spirou e Fantásio" para Franquin ilustrar, tais como, o ciclo "Zorglub" e "QRN sobre Bretzelburg", escrevendo também cerca de 200 páginas da série "Modeste e Pompon", desenhada igualmente por Franquin, e publicada na revista "Tintin". Em 1963, Greg criará, a sua mais famosa série de banda desenhada, "Achille Talon", publicada na revista "Pilote" e, mais tarde, dedicará todo o seu tempo, como artista, a esta personagem.

Continuando a sua actividade de argumentista na revista "Tintin", Greg torna-se editor-chefe da revista, entre 1965 e 1974, sendo durante este período que colabora com a maioria dos grandes artistas da revista, criando, juntamente com estes, várias séries famosas e escrevendo uma grande variedade de argumentos, tais como as séries: "Bernard Prince", a partir de 1966 e "Comanche", a partir de 1969 (ambas ilustradas por Hermann); "Luc Orient", a partir de 1967 (com Eddy Paape); "Olivier Rameau", a partir de 1968 (com Dany); "Clifton" ("Os duendes diabólicos", em 1969, com Jo-El Azara; "O mistério da voz que foge", em 1970, com Turk e Bob de Groot); "Prudence Petitpas" (com Maurice Maréchal); "Rouly la Brise", a partir de 1959 (com Mittei);"Flama de Prata", entre 1960 e 1963, "Line", entre 1963 e 1972 e "Corentin e o punhal mágico", em 1959 (as três ilustradas por Paul Cuvelier); "As panteras" (com Aidans); "Os náufragos de Arroyoka", em 1971 (com Claude Auclair); "Go West", em 1971 (com Derib); "Clorofila", em 1977 (com Dupa); "Cobalto" (com Walter Fahrer) e "Bruno Brazil", a partir de 1967 (com William Vance, usando Greg o pseudónimo Louis Albert).

Durante todos estes anos, Greg não abandona o desenho, pois à parte desta extraordinária e incrível produção de argumentos, Greg também continua a desenhar, criando o pugilista "Rock Derby" (1960-1963), os jornalistas "Babiole e Zou" (1962-1966), "Bolivar", em 1962, "Brousaille", entre 1962 e 1963 e "Constant Souci", em 1967. Ainda em 1963, retoma a série "Zig e Puce", criada por Alain Saint-Ogan e inicia, ao mesmo tempo, a série "Os Ás", na revista "Vaillant/Pif Gadget"; Greg continuará a ilustrar estas séries, mais tarde, no seu estúdio, até 1973.

Entre 1969 e 1973, Greg trabalha na adaptação, da banda desenhada para o cinema, dos filmes de "Tintin" (em desenhos animados): "O Templo do Sol" e "O lago dos tubarões". Em 1975, Greg torna-se director literário da editora "Dargaud", lançando, nesse mesmo ano, a revista "Achille Talon", para a qual, cria, entre outros, "Frére Boudin" (desenhado por Claude Marin), "Jo Nuage" (desenhado por Dany) e "Papa Talon" (desenhado por Hachel); esta revista teve, porém, somente 6 números, terminando em 1976.

No final da década de 70, Greg viaja até aos EUA, para trabalhar como responsável/representante da editora "Dargaud", neste país, onde trabalha em vários projectos para televisão. Contudo, em meados da década de 80, Greg regressa a França para continuar a trabalhar novamente como autor/argumentista em antigas séries como, por exemplo, "Comanche" (agora desenhada por Michel Rouge), em 1990, para a editora "Dargaud"; por esta altura, escreve as duas primeiras histórias, em 1987 e 1988, da nova série "O Marsupilami" (desenhada por Batem e Franquin), para as edições "Marsu-Produções", escrevendo ainda várias histórias para a colecção "Fleuve Noir's Hardy et Lessage".

Em 1991, ainda através da editora "Dargaud", Greg lança duas novas séries: "Colby", em colaboração com o ilustrador Michel Blanc-Dumont e "Johnny Congo", com ilustração de Eddy Paape; em 1992, Greg escreve uma nova aventura (a última) da série "Bernard Prince", ilustrada desta vez por Aidans.

Por tudo aquilo que ficou escrito para trás, facilmente se conclui que Greg foi um dos mais prolíficos e fecundos criadores da banda desenhada franco-belga, tendo trabalhado numa grande variedade de géneros, desde o realístico ao humorístico. Na verdade, em 50(!) anos de carreira, este versátil e polivalente autor, abordou todos os géneros, na banda desenhada: humor, guerra/espionagem, aventura, "western" e ficção científica!

Vejamos, a título de exemplo, alguns dos argumentos mais marcantes que tiveram a assinatura de Greg: séries clássicas, do género realístico, simbolizado em: aventuras da série "Bernard Prince" e no "western" maduro da série "Comanche" (ambas desenhadas por Hermann); série de ficção científica "Luc Orient" (desenhada por Eddy Paape); aventuras da série "Bruno Brazil" (desenhada por William Vance), etc. No caso particular da série "Comanche", o conhecimento que Greg possuía da verdadeira história do Oeste, aliado às frequentes viagens que fez aos Estados Unidos, permitiu-lhe sustentar e apoiar cada episódio de "Comanche" numa base de autenticidade, que o seu sentido do épico e das qualidades humanas torna ainda mais real. No género humorístico, escreveu histórias de "Olivier Rameau" (desenhado por Dany), "Clifton" (desenhadas por Jo-El Azara, Turk e Bob De Groot), "Zig e Puce", "Rock Derby", "Clorofila" (desenhado por Dupa), "Achille Talon", etc.

Em jeito de tributo e de reconhecimento pela sua carreira, obra, arte e talento, Greg recebe, em 1987, o "Grande Prémio das Artes Gráficas" e, um ano mais tarde, é condecorado e feito "Cavaleiro das Artes e Letras". Já perto do final da sua carreira, Greg vende os direitos da sua famosa personagem "Achille Talon" à editora "Dargaud"; embora a personagem continue as suas histórias, Greg nunca mais a desenhará, nem voltará a escrever mais diálogos.

Entretanto, nos últimos anos da sua vida, Greg passa a desenhar cada vez menos, pois vai perdendo, progressivamente, a visão do seu olho esquerdo e, ao mesmo tempo, a sua saúde vai-se deteriorando, pouco a pouco. Em 1993, Greg publica, através do editor "Michel Lafont", o livro: "Ele pensa, logo existo", uma recolha de aforismos, onde Achille Talon está sempre presente. Em 1995, são reeditadas, através da editora "Glénat", histórias inéditas da série "Zig e Puce". No final de 1999, a editora "Dargaud" publica o livro "Diálogos sem bolhas", no qual Greg fala de si próprio, da sua carreira e obra, com destaque para os heróis nos quais trabalhou, numa conversa com Benoit Mouchart, um jovem formado em literatura e letras modernas. Greg morre, nesse mesmo ano, a 29 de Outubro.

Tanto como argumentista, desenhador, editor-chefe (revista "Tintin") e director literário (editora "Dargaud"), Greg participou, a todos os níveis, na evolução da banda desenhada franco-belga, embora tenha deixado uma marca mais acentuada e de maior relevo ao nível da produção e escrita de argumentos. Com efeito, Greg produziu, ao longo da sua vasta e rica carreira, cerca de 250(!) álbuns, pertencentes aos mais variados géneros, provando toda a sua versatilidade, polivalência e imaginação criadora, enfim, todo o seu talento puro!

Em jeito de balanço final, pode-se dizer que a principal e verdadeira ambição de Greg, foi sempre a de fornecer um meio de expressão gráfica que fosse portador de histórias tão sólidas e ricas em imaginação, como os melhores filmes de cinema ou os melhores romances clássicos. O percurso de Greg na banda desenhada, é, de facto, o percurso de um autor curioso e inventivo ao máximo, sempre desejoso de satisfazer a sua paixão de contar histórias. Foi, certamente, devido ao facto de não ter tido tempo de desenhar tudo aquilo que ele imaginava, que Greg multiplicou a sua colaboração com autores tão diferentes como, Claude Auclair, Michel Blanc-Dumont, Paul Cuvelier, Dany, Derib, Dupa, Franquin, Goscinny, Hermann, Eddy Paape, Tibet ou William Vance, só para citar alguns.

Julgo que será difícil, senão mesmo impossível, encontrar, entre os autores da banda desenhada (franco-belga e não só) do século XX, alguém que tenha escrito maior quantidade e variedade de argumentos que Greg! Quase me atreveria, inclusivamente, a interrogar se, alguma vez, voltará a aparecer um autor/argumentista com esta capacidade inventiva para escrever tanto e sobre qualquer género de histórias.

Contribuição de Alexandre Ribeiro