Bernard Prince (Edições du Lombard, 1969)

BERNARD PRINCE
(1966)
Aventureiro francês
(mundo contemporâneo - século xx)


Em meados da década de 60, mais especificamente em 1966, a banda desenhada franco-belga "fez nascer", através da colaboração conjunta e da conjugação do talento de Hermann (no desenho) e de Greg (no argumento), uma nova série de aventuras, personificada por um novo herói, de nome "Bernard Prince", um jovem descontraído, seguro de si, elegante, forte e corajoso.

Estas características aliadas ao seu espírito aventureiro e solitário, têm o sortilégio de prender a atenção e de entusiasmar os leitores, de tal forma que estes, rapidamente, se sentem cativados e fascinados por este herói, no qual não vêem, praticamente, nenhum ponto fraco. Com efeito, uma das imagens de marca de Bernard Prince está associada ao facto de ser um autêntico aventureiro que detesta a rotina, possuindo, no seu "sangue", por um lado, o gosto e a paixão pela acção e aventura e, por outro lado, o amor pela liberdade.

Bernard Prince fez a sua primeira aparição em Janeiro de 1966, na revista "Tintin", através da pequena aventura "Bilhete surpresa", uma história em 4 pranchas. Porém, para o argumentista Greg, Bernard Prince não era um herói inteiramente novo ou desconhecido, até então. Na verdade, o seu verdadeiro "nascimento" ocorrera em 1958, mas com outro nome, aparecendo num semanário que tinha por título "Ima". É, pois, nesta revista que Greg, juntamente com o ilustrador Louis Haché, narra as aventuras do herói "Bob Francval", um agente da Interpol, e de um jovem hindu recolhido por aquele, chamado "Djinn".

Em jeito de prenúncio das primeiras aventuras de Bernard Prince, são produzidas duas histórias de 30 páginas cada: "Terror no Pacífico" (que conta as atribulações e peripécias vividas pelos nossos heróis, em luta com perigosos espiões, nas ilhas do pacífico) e "Perigo à venda".

Assim, nas primeiras histórias, Bernard Prince aparece como um agente da Interpol, que conduz as suas investigações em França. Contudo, Tibet (desenhador da série "Ric Hochet") ao constatar o crescente sucesso da série "Bernard Prince", depressa se opõe ao aparecimento deste novo "herói-rival", o qual, segundo Tibet, se assemelha ao tipo de personagem de Ric Hochet, e cujas aventuras se aproximam também das do género do jornalista-detective. Perante estes argumentos, Tibet impõe o seu veto, pretendendo que não haja lugar ao aparecimento de um novo herói do tipo detective ou investigador, na revista "Tintin", uma vez que, para Tibet, esse lugar já está ocupado e pertence, por direito de antiguidade, apenas a Ric Hochet.

Em face destes factos e a fim de continuar a série, o argumentista Greg faz Bernard Prince "herdar" um barco, o "Cormoran", fazendo com que se "despeça" também da Interpol. Bernard Prince "transforma-se" assim numa espécie de "mercenário" independente, trabalhando por conta própria, possuindo, contudo, uma certa moral, em função da qual aluga os seus serviços, em nome de causas que julga serem mais ou menos nobres e justas.

A partir deste momento, as histórias deste herói passam a ir de encontro à tradição pura dos filmes de aventuras americanos da época; essas histórias incluem uma imaginação transbordante e um sentido de espectáculo exuberante, que fazem de Bernard Prince, um verdadeiro "príncipe" da aventura.

As aventuras de Bernard Prince relatam, pois, a "epopeia" de um barco, o "Cormoran" e da sua tripulação, constituída por um trio de amigos aventureiros e inseparáveis: Bernard Prince é o dono do "Cormoran", a bordo do qual se sente um homem livre, percorrendo os mares em busca de aventuras; este faz-se acompanhar, nas suas aventuras, por dois fiéis amigos, o jovem grumete hindu "Djinn"; o imediato/ajudante "Barney Jordan", um velho capitão marinheiro, beberrão, amante do whisky e de raparigas jovens, que gosta de andar à pancada; tem, porém, um "coração de ouro" escondido sob uma "carapaça" rude e grosseira, usando sempre um boné e fumando cachimbo; conhece Bernard Prince em Lombashi (África), tornando-se, a partir daí, seu companheiro inseparável.

No final da década de 70, o desenhador Hermann sente o desejo de criar os seus próprios argumentos e surge uma oportunidade, através da editora alemã, Koralle, a qual lhe dá a possibilidade de produzir a sua própria banda desenhada. Assim, Hermann aproveita esta ocasião, tendo, no entanto, que abandonar a ilustração de uma das duas séries ("Bernard Prince" ou "Comanche") em que está envolvido; após consultar Greg a esse respeito, decide abandonar, em primeiro lugar, a série "Bernard Prince", a qual é retomada, na ilustração, por Dany, um admirador de Hermann, o qual produz, juntamente com o argumentista Greg, apenas dois álbuns: "A cilada dos 100 000 dardos" e "Tempestade sobre o Cormoran".

Bernard Prince, Barney Jordan e Djinn (Edições du Lombard, 1969)


Contribuição de Alexandre Ribeiro